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ASCENSÃO E QUEDA DE UM IMPÉRIO

11/05/2021 - Da equipe de reportagem de O PODER

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PARTE I

DIAS DE GLÓRIA
O grupo Nassau, ou grupo João Santos, nunca teve existência “de direito”. Sua existência "de fato" foi reconhecida pela Justiça porque as empresas mantinham estreitas relações entre si, inclusive transferindo recursos e patrimônio entre elas e tinham praticamente todas os mesmos diretores pessoas físicas. Por isso, o reconhecimento da existência do Grupo é importante para o ressarcimento das suas dívidas trabalhistas e fiscais.

O CONTADOR
O fundador do grupo, João Pereira dos Santos, começou sua vida profissional como contador de uma firma de importação/exportação. Seu primeiro empreendimento industrial foi a Usina Santa Tereza, no final da década de 30, em Goiana, Pernambuco.
Sua primeira fábrica de cimento, a Itapessoca, foi inaugurada na ilha do mesmo nome, em 1954. Seu João não admitia sonegação de impostos nos seus negócios. Embora declaradamente não gostasse de pagar tributos, desde que considerava o governo "um sócio inútil e incômodo", preferia pagar " para não perder o controle do movimento e ser roubado pelos próprios funcionários". O imposto era a forma de controle que considerava mais eficaz depois que suas atividades se expandiram e se multiplicaram.

MUSCULATURA
O grupo começou a crescer no final dos anos 60 com a aquisição de uma fábrica de cimento, então em estado pré-falimentar, no Espírito Santo. Seu Santos tinha como uma das suas especialidades adquirir negócios em dificuldades e depois os recuperar. Para concorrer com o Grupo Ermírio de Moraes, resolveu botar um pé em São Paulo, começando do zero sua fábrica naquele Estado.

NOVA ESTRATÉGIA
Montou sua própria estratégia de investir em unidades menores, porém disseminadas de São Paulo até Manaus. Soube utilizar com habilidade os mecanismos de financiamento da Sudene, montando fábricas na Bahia, Sergipe e Piauí e da Sudam, com unidades no Pará e Amazonas. Desse modo, formou uma rede de 11 fábricas de cimento espalhadas, como foi dito, de São Paulo ao Amazonas. Seu Santos morreu com 102 anos de idade, em 2009.

TRAGÉDIA
A tentativa de internacionalização do grupo, com uma fábrica no Paraguai, acabou frustrada depois de um trágico acidente que ceifou a vida do filho mais velho, responsável pelo empreendimento. João Filho era considerado o herdeiro natural do pai e demonstrava o mesmo tino para os negócios. Na avaliação de conhecedores da história do grupo, a semente da decadência encontra-se na morte trágica e precoce de João, quando o avião do grupo no qual viajava bateu em fios da rede elétrica ao levantar voo no Paraguai.

INCENTIVOS HONESTOS
Registre-se em paralelo que as fábricas montadas com recursos de incentivos fiscais da Sudene e da Sudam tinham isenção de impostos por 10 anos. Findo esse prazo, grande parte delas simplesmente fechou as portas, encerrou as operações, deixando as regiões carentes e os contribuintes a ver navios. Isso era coisa sabida por todos, comentada abertamente. Entretanto interesses poderosos impediram que o esquema fosse devidamente passado a limpo. Formou fortunas e não desenvolveu as regiões que deveriam ter sido beneficiadas. Tudo acabou ficando por isso mesmo. Diferentemente, as fábricas do Grupo João Santos implantadas com a ajuda de recursos do Finam e do Finor foram em frente e funcionaram até 2019.

CIMENTO É PÓ
Cimento não é um produto próprio para exportação. Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, é um produto perecível, com prazo de validade curto (três meses, aproximadamente). Não se presta também a ser estocado. A produção tem que estar em estreita sintonia com o mercado.
Sabedor dessa limitação do seu principal produto, seu Santos diversificou seus investimentos para a agroindústria do papel.

A CELULOSE
Adquiriu a fábrica Portela, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Além disso, montou um projeto para a produção de celulose à base do bambu no Maranhão. O bambu é uma gramínea como a cana de açúcar, cujos segredos de cultivo eram dominados por seu Santos. Para isso, o Grupo adquiriu grandes áreas de terras planas, adequadas ao agronegócio, em regiões valorizadas daquele Estado.

RUQUEZA QUE CUPIM NÃO ROI
O patrimônio imobiliário do grupo é algo extraordinário, difícil de calcular. Além das terras, medidas por centenas de milhares de hectares, mais instalações, equipamentos, empresas de comunicação e até um porto particular em Manaus, a família é proprietária incontável quantidade de imóveis de todos os tipos, localizados, principalmente, nas capitais, de São Paulo ao Amazonas. Uma das "distrações" prediletas de seu Santos era exatamente comprar imóveis, "coisa que cupim não rói", confirme costumava dizer. Somado, esse patrimônio, hoje diluído em dezenas de empresas, muitas delas puramente laranjas ou de fachada, é muito superior à soma dos passivos, inclusive dos débitos de salários para com seus empregados.

FOCO NO LUGAR CERTO
Era para o seu congelamento que deveria estar o foco das investigações. A apreensão de alguns maços de dinheiro, relógios caros, joias valiosas e obras de arte de artistas pernambucanos serve de espetáculo e símbolo. Mas é café pequeno diante do valor do patrimônio real, espalhado pelo país.

É esse patrimônio que, devidamente resguardado, pode pagar tudo e ainda deixar milionários os seus controladores.

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