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Diversidade religiosa - Coluna de Carlos André Cavalcanti - Preta é a fé

25/11/2021 - Carlos André Cavalcanti

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No mês da Consciência Negra, é preciso pensar a/na Religião dos Orixás como uma das maiores contribuições culturais que o Brasil recebeu. Ela é parte do patrimônio religioso nacional! No mundo contemporâneo, a Diversidade Religiosa é uma prova de civilidade boa. Afinal, forças políticas de extrema-direita estão combatendo todas as diversidades em muitos países. Vivem a perversão da busca da “pureza”. É por isso que, além de justo, é preciso dar voz a todas as religiões e proteger o direito delas existirem em um país laico.

ÁFRICA & BRASIL
Religião dos Orixás é a denominação que eu criei para homenagear e conceituar tradições diversas, porém confluentes, tais como Candomblé, Umbanda, Xangô e Jurema Sagrada. Trata-se de uma religião multimilenar cujas origens mais remotas perdem-se no tempo por estarem em um período muito anterior ao surgimento, por exemplo, do cristianismo. Em outras regiões do planeta, ela ganha outros nomes. Chegou ao Brasil na imigração forçada de pretos africanos em estado de escravidão trazidos para o país por mercadores portugueses.

COSMOGONIA DO MUNDO
Os Orixás apresentam uma profundidade psicanalítica semelhante àquela encontrada por Freud no paganismo grego. Até maior, talvez. Religião nascida em um tempo ainda ágrafo, ela tem sua poderosa expressão cultural através de uma oralidade matrilinear que atravessa séculos e milênios! Sua força vem do fato de que reflete com sabedoria a vida neste mundo, incluindo o bem e o mal, mas aconselhando o bem. Ou seja, é uma religião que não nega a existência daquele mal que brota da profundidade complexa da Alma humana. Penso que já deveríamos ter uma psicanálise baseada nos Orixás e não apenas nos deuses gregos!

COMPLEXO DE OMULÚ
Se, por exemplo, Quíron é o arquétipo ou narrativa mítica do médico-ferido no ocidente greco-romano, Omulú ou Obaluaê tem o mesmo predicativo dentre os orixás. Sabe aquele médico que você certamente conhece e que tem uma profunda vocação para compreender os seus pacientes e ajudá-los em sua dor? Pois bem, é provável que ele tenha este orixá como guia, do ponto de vista desta religião africana. Quíron e Omulú reconhecem a dor do outro porque conhecem a própria dor. Este é um pequeno exemplo a partir de uma riquíssima narrativa que não cabe aqui neste espaço, mas que demonstra que a classificação psicanalítica dos seres humanos a partir do mito. É parte da sabedoria que aqui chegou preta e que hoje é de todas as etnias.

A COR DA FÉ
No Brasil, nenhuma religião pode ser afirmada como pertencente a uma única etnia. O hibridismo religioso é uma poderosa marca cultural do país. É muito difícil controlar as adesões, mesmo quando tal controle é do desejo de alguma religião ou igreja. A Religião dos Orixás, por sinal, não faz proselitismo ou catequese. É, neste sentido, muito discreta quando comparada ao cristianismo. Parte dela, inclusive, se “apropriou” licitamente de símbolos e narrativas cristãs. Neste contexto, a pele branca, os olhos azuis e o cabelo loiro estão muito presentes nos terreiros afro-brasileiros. Há muito que orixá deixou de ser fé exclusiva dos pretos. É de todxs nós! Preta é a fé.



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