DE OLHO NA POLÍTICA - Artigo de Jorge Zaverucha* - O JOGO DA GALINHA
14/09/2021 - Jorge Zaverucha
A Teoria dos Jogos estuda, dentre outros, o chamado Jogo da Galinha (“chicken”). Galinha em inglês é uma gíria depreciativa usada para definir uma pessoa como “frouxa”, “marica”, “amarelona” etc. Ou seja, quem foge do embate final com medo de suas consequências.
QUEM PERDE O JOGO
O jogo desenvolve-se da seguinte forma. Dois motoristas partem com seus respectivos veículos em alta velocidade e em sentido opostos por uma pista única. Só há espaço para um veículo passar. Caso ambos motoristas adotem a estratégia dominante de manter o pé no acelerador, em algum momento haverá uma colisão frontal, ambos morrerão e o jogo acabará. Ganha quem conseguir fazer com que seu oponente saia para o acostamento. Quem desvia é chamado de “galinha”. E perde o jogo.
EFEITO DO DISCURSO
No dia 7 de setembro passado, Bolsonaro chamou Moraes de canalha e disse que não mais cumpriria suas ordens judiciais. Discurso golpista. Finda a emoção de discorrer para uma multidão incensada, o Presidente começou a sentir os efeitos de sua fala. Embora tenha um general como seu Ministro da Defesa, o Exército preferiu ficar observando a disputa. Alguns parlamentares ameaçaram retirar seu apoio no Congresso. Com isso, aumentaria a pressão pela abertura do impeachment presidencial. O mercado reagiu mal, e o STF mostrou firmeza ante o seu discurso.
CESSAR FOGO
Além do mais, o Presidente perdeu o controle sobre um setor mais radical dos caminhoneiros. Uma greve dos mesmos afetaria a economia que já vem apresentando suficientes problemas. Bolsonaro então ligou o modo sobrevivência política. Precisava de uma mudança de rota rápida antes que os dois veículos se aproximassem e ele fosse obrigado a desviar da colisão. Ser chamado de “galinha” seria o fim de seu governo. Não havia tempo a perder. Mandou trazer Temer de avião da FAB para mediar o cessar fogo. Algo diferente de acordo de paz.
VERSÃO DE CADA UM
Como Moraes estava muito desgastado perante a sociedade e, também, entre alguns de seus colegas, noves fora os pedidos de impeachment protocolados contra sua pessoa, interessou-lhe a intermediação de Temer. De fato, a colisão veicular foi evitada e cada lado pode desenvolver a narrativa que mais lhe interessou para explicar o recuo. Especialmente, o de Bolsonaro.
DESCONFIANÇA PERSISTE
As desconfianças mútuas, todavia, persistem. Ou seja, o equilíbrio é instável. Nada impede de Bolsonaro voltar ao centro da arena. Afinal, ele não foi nocauteado e é capaz de mobilizar uma ampla e aguerrida torcida. Isto conta, e muito. Contudo, terá de apresentar uma nova estratégia de luta pois as circunstâncias políticas foram alteradas. Por sua vez, o Supremo deve colaborar amenizando algumas de suas decisões afrontosas—como a de que juiz pode investigar crime-- e frear seu ativismo político. Caso contrário, poderá ser acusado de violar os termos do cessar fogo. Termos estes, por sinal, que ainda não foram, publicamente, revelados em sua plenitude.
* O autor é Professor da UFPE e doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago
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